domingo, 31 de julho de 2011

Comentando comentário - saudades e esperança

Hoje, enquanto os meus pais arrumavam as malas pra voltarem a Catanduva (depois de um fim de semana afetivamente intenso aqui conosco em Brasília), o Antônio "nos comunicou" que também voltaria com o vovô e a vovó.
Desde ontem ele vinha tentando convencer seus avós a ficarem mais uns dias. Argumentou de todas as maneiras: chegou até a orientar minha mãe sobre como fazer para organizar à distância o trabalho na Loja.
Então,quando ele percebeu que não poderia fazê-los ficar, não hesitou e tomou a decisão de voltar pra sua antiga casa.
Nunca foi tão difícil demovê-lo.
Sobretudo, porque compreendo e reconheço perfeitamente os motivos que o levaram à decisão de voltar. Cito apenas dois (pra não chorar): aqui ele não tem nem dez por cento da liberdade que tinha em Catanduva e, pra piorar, ainda não tem amigos. Foi duro ouví-lo dizer, aninhado em meu colo, que "precisava voltar porque senão ia esquecer os nomes dos seus amigos". Respondi que ele poderia ligar para eles e vê-los pela internet, mas ele retrucou de forma incisiva me dizendo que "não queria falar, mas brincar com seus amigos".

Li o comentário da Sandra e me lembrei (mais uma vez) daquela música do Peninha (ou do Caetano?) chamada "Sonhos" que diz assim: "Ter saudade até que é bom, melhor do que caminhar sozinho. A esperança é um dom que eu tenho em mim. Eu tenho sim".
Acho que vou ter que repetir na frente do espelho como no terço bizantino: "eu tenho sim".

Mas vou esperar (de esperança) até amanhã à noite quando encontrá-los em casa depois do primeiro dia de aula na Moara.

Boa noite, meninos.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Saudades de menino

Depois do Antônio quase me matar (de remorso?) há duas semanas ao me dizer, meio ensimesmado, que estava com saudades de seus amiguinhos, hoje, enquanto oferecia aos meninos a última refeição da noite, o João Pedro me mostrou uma caixa, parecida com as antigas caixas de sapatos, atada com uma fita branca com a qual ele também prendeu uma tulipa de plástico.

"É um presente, meu filho? Para mim?", perguntei.

 "São vários presentes que vou mandar para o Gui lá em Catanduva", ele respondeu.

E foi logo desatando o nó para me mostrar o que havia dentro. Retirou uns dez pequenos brinquedos, inclusive um chaveiro com bússola que eu lhe dera de presente.

"Mas por que você vai dar isso tudo pro Gui? Até o seu chaveiro?", questionei.

E ele, com aquele jeito doce e generoso que é só dele, me disse que era "pra agradecer a amizade que eles tiveram" e, quanto ao chaveiro-bussúla, respondeu-me que podia usar o do Antônio.

Reagi dizendo que a amizade entre eles não havia acabado, porque amigo de verdade é amigo pra sempre e em qualquer lugar.

Mas fiquei comovido mesmo quando ele me mostrou o bilhetinho escrito para acompanhar a caixa: "Gilherme eu juão te mando um abrassauo. estou com saudades e fala para leticia que eu amo ela fim".

Só não me desfiz num choro torrencial, porque a estiagem anda tão braba por aqui que deve ter desidratado meu coração.

Ainda bem que os meninos têm um ao outro:

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Reza de cabeça e "cébelo"

Ontem a noite a Mi convocou os meninos pra reza que, religiosamente, antecede o sono.
Como são várias as orações e eles estavam realmente cansados, nem bem ela começou com o Pai-Nosso, o João Pedro foi logo avisando: "Eu vou rezar de cabeça". Quer dizer, pra bom entendedor, vou ficar quietinho ouvindo a mamãe entoar a sua longa ladainha.
O Antônio pra não ficar atrás e o por baixo disse em seguida: "E eu vou rezar com o cébelo".

terça-feira, 12 de julho de 2011

O Mônico, o dono da rua e o complexo de Édipo

Ainda em Catanduva os meninos começaram a me chamar de Mônico, a versão masculina-adulta-paterna da Mônica do gibi.
Um pouco instigados pela mãe (que é capaz de perder o marido, mas não a piada) e outro tanto pelas reais semelhanças, o fato é que o apelido pegou. Também ajudei a emplacar a alcunha fazendo de conta que fico furioso com a brincadeira: corri atrás, fiz cócegas e dei até coelhadas (eles têm um Sansão).
Agora não tem mais jeito. Para o porteiro, para a faxineira, para o entregador de jornal, para o garçom do restaurante da CGU, enfim, para todo mundo que o João Pedro e o Antônio tiveram a chance de me apresentar aqui em Brasília já sou o Mônico.
Dentuço ainda vá lá (no fundo gosto), baixinho nunca (difícil admitir, mesmo depois de casado), gordinho talvez (na barriga), agora o que não resta dúvida é que para os meninos subi de posto: saltei de manda-chuva do pedaço para o dono da rua.
Provavelmente foi a conclusão a que chegaram depois da mudança por "causa do papai".
O lado bom é que os dois se sentem seguros comigo, com o Mônico, forte e imabtível. O lado "ruim" é que eles, agora, vivem me desafiando e bolando planos mirabolantes pra me destronar.

Laio que se cuide. Afinal, quem mandou desposar Jocasta e ainda por cima fazer dois Édipos com ela?

domingo, 10 de julho de 2011

Memória de criança

Quantas vezes não sentimos um cheiro que nos remete imediatamente a uma situação vivida (ou mesmo um lugar) em nossa infância?
Para mim até hoje o Natal é o cheiro de uma árvore que tinha aos montes perto da casa de minha avó na Vila Cardia em Bauru, no entorno da rua Ezequiel Ramos.

No sábado, foi a vez da memória do João falar mais alto. Fomos levar os meninos para conhecer a Moara no novo endereço (703 Norte).
Assim que entramos na escola, que é bastante diferente da outra Moara do Lago Norte, o João Pedro me puxou pela mão e disse: "É tudo muito diferente, mas o cheiro é o mesmo!"

Contei pra Deide, que foi professora do João e será do Antônio, e ficamos todos emocionados.

I-n-c-o-n-f-e-s-s-á-v-e-i-s (o que os pais pensam, mas não tem coragem de dizer)

Na quarta-feira passada, um dia depois de se consumar nossa mudança para Brasília, o Antônio me disse, enquanto ele fazia cocô e conversávamos sobre a vida (como de costume), que estava com muita saudade do Colegião.
De bobeira eu ainda perguntei: "Mas, é saudade de Catanduva ou apenas de algum amiguinho em especial?".
"Ah, papi, de todo mundo, mas mais do João Galera", repondeu sinceramente.

Aí, pela primeira vez, me dei conta que a melhor opção para minha família era verdadeiramente minha morte.
Sempre fiz piada com isso. Vira e mexe acabava dizendo pra Mi que caso eu morresse ela ficaria muito melhor: sem mim, com pensão integral e ainda morando com os pais em Catanduva.
Entretando, nunca havia levado a sério essa brincadeira mórbida.
Até perceber o quanto nossa grande família (avós, tios, primos e amigos) é necessária para a felicidade dos meninos.
Fiquei derrubado.
Pensei numa alternativa menos drástica -- como ficar tetraplégico, me aposentar e irmos todos morar definitivamente em Catanduva --, porém, somente com a morte eu me transformaria numa solução, em absoluto.

Bom, de lá pra cá, quatro longos dias se passaram e para minha alegria a Mi já me diz que está muito feliz com o novo apartamento (apesar da vizinhança), as professoras da Moara nos receberam de braços e corações abertos, o Antônio voltou a dizer que somos irmãos gêmeos e o João Pedro já parou de roer unha.

É... tudo indica que viverei mais uns anos.