quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A lógica do cão

Curioso isso... Um bocado de tempo sem postar coisa alguma e apareço novamente pra registrar mais uma apresentação eloquente (sempre eloquente) da lógica da cabeça do Tunico.
Ao longo desse tempo todo, foram muitas dessas apresentações. Algumas de cair o queixo. Outras dignas de aplauso.
Mas tenho me segurado, sobretudo, para ajudá-lo a conter nele mesmo uma certa propensão às exibições públicas, ao espetáculo, enfim, à dependência da audiência; que, a meu ver, já começa a atrapalhá-lo (talvez um dia eu faça nova aparição por aqui só pra falar desse tema).

Vamos aos fatos: estávamos nós em loooooonnnnnngggaaaaa viagem de férias, pai e mãe se desdobrando para entreter dois moleques sedentos de avós, tios, amigos, bichos, espaços, brincadeiras, enfim, de Catanduva. E aí, quase já sem estórias pra contar, saquei de minha cartola mágica a seguinte pergunta: "Quem é que sabe a diferença entre cão e cachorro?"
O João Pedro pensou um pouco e disse: "Não sei". Depois, com a ajuda da mãe, ponderou um pouco mais e afirmou: "Não tem diferença, as duas palavras falam do mesmo animal".
Antes que o Antônio se pronunciasse, eu sentenciei: "Certíssimo, João, 'cão e cachorro' têm o mesmo significado, é que você, no ano que vem e na nova escola, vai chamar de sinônimos."
Mal terminei e o Tunico já estava se opondo. Ele respondeu: "Não! Tem diferença, sim. Porque cão é um cachorro mais bravo, como pitbul e... (e não me lembro o outro exemplo que ele deu)".
Como de costume, eu retruquei: "Como assim?"
Ele então explicou a todos nós, comigo dando uma mãozinha, que todas as  placas penduradas nos portões das casas avisando que existe um "cachorro bravo" dizem "cuidado, cão bravo". Logo, de acordo com sua lógica que nunca havia registrado uma plaquinha dizendo "cuidado, cachorro bravo", cão é diferente de cachorro, porque diz respeito a um animal necessariamente perigoso.

Apenas para não confundir o João com o silogismo do Antônio, tive de esclarer que, de fato, as plaquinhas só traziam a palavra cão. Porém a razão era outra: é que a palavra cão tem menos letras do que cachorro o que facilita o registro e a leitura.

Mesmo assim fiz festa pela grandeza do raciocínio.

E o mais inacreditável disso tudo (ao menos para um pai-coruja como eu) é que o fio-da-mãe-desse-molequinho ainda é analfabeto.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A lógica dos cinco

Para Marcelo e Angélica

O Antônio fez 5 anos na última segunda-feira.
Portanto, resolvemos comemorar seu aniversário no sábado, dois dias antes da data, junto com os nossos amigos mineiros, que são — para todos os efeitos — a nossa grande família aqui em Brasília.
Sem prejuízo, no entanto, da realização de uma segunda festinha no dia exato de seu nascimento: 5 de março.
No domingo à noite, um dia depois da primeira festa, minha mãe ligou para parabenizá-lo mais uma vez. No meio da conversa (sempre longa e divertida) ela deve ter comentado com o Antônio que “ele já havia preenchido uma mão inteira com os seus anos de vida”. Foi a deixa para que ele emendasse numa rigorosa demonstração lógica: “Sim vovó; e amanhã eu vou juntar mais um [dedo], porque vai ter outra festa na minha escola. Aí vou ficar com... [ele parou um pouquinho para contar os dedos] 6!”
Minha mãe não entendeu o raciocínio e, quando ele percebeu isso, me passou logo o telefone para que eu tentasse explicar.
Nem tentei, apenas ri satisfeito diante daquele gigantesco feito da inteligência do bichinho.
Ei-lo na íntegra:
  1. Em toda festa de aniversário a gente comemora e ganha um “dedo” de vida a mais.
  2. Ontem, sábado, comemorei e ganhei mais um, totalizando cinco anos.
  3. Amanhã terei outra festa de aniversário e, logo, vou ganhar o sexto [dedo].

Evidentemente, o silogismo (e o Antônio) parte de uma premissa falsa segundo a qual basta fazer festa de aniversário para que se faça aniversário. Um detalhe insignificante que o tempo, a cultura e suas próprias experiências hão de corrigir (se a escola não atrapalhar, é claro).
De qualquer forma, o essencial já está lá: guardado dentro de sua preciosa cabeça.

E pensar que Aristóteles começou assim...

Depois não querem que eu seja coruja.