segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Feliz Ano Novo e, finalmente, adeus Ano Velho!

Desejo um Feliz Ano Novo aos pais, às mães e aos demais malucos que, em algum momento da vida, decidiram ter filhos (mesmo àqueles que só puderam decidir depois do susto de uma gravidez não-planejada e também àqueles que ainda nem ficaram grávidos, pois o que importa é a decisão).

E eu queria mandar um beijo para a Patrícia, minha irmã, e para o Onésio que tiveram o desplante de nascer no réveillon. E para homenagear todos os amigos que fazem aniversário em janeiro — o Fernando Carvalho, a Marina Oliveira, a Tia Marta e, ontem, o Leo Barbosa — eu postei a mais bela canção que existe sobre o tema: “Feliz aniversário” de Alvarenga e Ranchinho (pena que não são os dois que cantam).

Não, não é o Ano Novo chinês que estou comemorando. O Filhosofias ainda segue o calendário gregoriano, mas, como o tempo também é uma questão subjetiva, minha “passagem” foi um pouco mais longa. E por muito pouco este blog não consegue completar a travessia de 2010 para 2011. Isto é, quase o abandonei pelo caminho.

A primeira justificativa que formulei (comigo mesmo) para acabar com o blog foi meio dissimulada, como quando a gente na adolescência pedia um tempo pra namorada só pra não ter que dizer “acabou e pronto”. Pensei com meus botões: “Vamos todos tirar umas férias e quando a Angélica, o Marcelo, a Cecília e o Murilo voltarem, nós voltamos também”.

Já a segunda justificativa foi apenas uma variação daquela velha desculpa esfarrapada da falta de tempo: “O Filhosofias ficou pesado demais, não dá para carregá-lo nas costas pelas madrugadas adentro. Vou fazer exercícios físicos de manhãzinha que eu ganho mais, ou quem sabe, perco a barriga”.

A terceira, um pouco mais honesta, foi: “Estou ficando viciado nisso, se não escrevo todos os dias e não consulto as estatísticas da audiência (quem leu, quem comentou, de que país, a que horas, etc.) parece que fica faltando alguma coisa”.

A quarta justificativa foi mais ou menos o oposto da segunda, tal como o apresentador de TV que faz de tudo para conquistar mais público e depois reclama que não consegue tomar um pileque sossegado nas areias de Copacabana sem ser incomodado pelos fãs: “Acho que as postagens acabam expondo excessivamente a mim e a minha família, além do que criam expectativas reais, ainda que os relacionamentos sejam exclusivamente virtuais. O Pequeno Príncipe estava certo quando disse aquela pieguice de ‘tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas’”.

Formulei a quinta justificativa depois de ter lido nas férias Ana Karênina do Tolstoi e Pai e filho do Tony Parsons, que, guardadas as devidas proporções de tempo e lugar, são livros que dispensam quilos e mais quilos de blogs: “Como é que eu posso ter o descaramento de tomar o tempo de mães e de pais com essas postagenzinhas pretensiosamente perscrutadoras sabendo que existe tanta literatura de primeira-linha por aí? O Filhosofias faria muito mais pelas crianças se se dedicasse tão somente a instigar os adultos a ler Machado, Saramago, Tolstoi, Guimarães Rosa...”

A sexta justificativa que arrumei para parar de filhosofar em público foi mais uma manifestação do cabra-macho que existe em mim (meio velho, mas existe): “Cansei de conversar sobre criança; parece até que sou mãe, que assisto novela, que sei bordar, que arroto discretamente e que torço pro São Paulo. Daqui a pouco vou começar a falar dos ‘homens’ para minhas amigas leitoras como se eu fosse aquele amigo gay que toda mulher pensa que precisa ter”.

Aí quando estava pensando numa sétima hipótese para não mais escrever, compreendi que o buraco era realmente mais embaixo e que eu seria capaz de encontrar mil e uma justificativas só para não ver a assombração que, de novo, me paralisava.

Trauma

Quem acompanha o Filhosofias sabe que as postagens intituladas “Intra-uterinas” dizem respeito ao diário que escrevi durante a gravidez do João Pedro. Mas provavelmente tenha passado despercebido — até para Angélica — que comecei aquele papo sobre o aborto dizendo ao João (um bebezinho tão indefeso) que conversaríamos sobre um outro assunto ainda mais difícil tanto para mim quanto para ele.

Acontece que naquela época — mais ou menos no início da gestação — eu não tinha idéia do amor gigantesco e avassalador que fundamentaria minha condição de “pai, de verdade” ao fim dos nove meses. Por isso eu disse ao João, talvez mais como mestrando e menos como pai, que necessariamente teríamos que prosear sobre um outro assunto.

Olha só, tão espinhoso me parecia a conversa que não fui capaz, lá nos idos de 2003, de dizer claramente do que se tratava. E quanto mais me aproximava do meu filho e de seu parto, mais me sentia incapaz de tocar no assunto.

E não toquei mais. Pois, parei de escrever o diário porque já não sabia como prosseguir com meu diálogo (é quase um oxímoro, né?) intra-uterino. E fui me dedicar aos trabalhos manuais da casa e do quarto do bebê.

Contudo, depois do Apgar 3 do João (contei na postagem O parto do João Pedro) e diante dos risco de seqüelas neurológicas, frequentemente me sentia de súbito acossado por pensamentos ruins, desses que nos pegam desprevenidos e nos fazem sofrer só de lembrar (que um dia pensamos). Mais que depressa agitava a mão sobre a cabeça como se pudesse abanar e dissipar as nuvens carregadas que o medo nos traz. Era, no fundo, aquele outro assunto que não ousava enunciar.

Ano após ano via o João Pedro crescer em coragem, em bondade e em inteligência, sem qualquer problema. E, assim, com o passar do tempo fui ficando tranqüilo e seguro de que o outro assunto havia perecido.

Até que, no finalzinho de dezembro de 2010, sete anos se passaram e quando eu me preparava para finalmente falar do que nunca falei e enfrentar o trauma, sucumbi novamente: não dei conta de escrever coisa nenhuma e achei que seria mais fácil encerrar o blog do que o assunto.

Bom, evidentemente, não foi dessa vez. O Filhosofias superou o meu trauma e continuará a seguir o seu curso, firme e forte, como Frei Caneca do Amor Divino um dia sonhou.

Saravá.

3 comentários:

  1. Ufa! Ainda bem que vc não encerrou o blog! Senti a falta dos seus posts e comentários.
    As vezes também sinto essa necessidade imensa de me ausentar, penso que o mundo esta tão mais cheio de problemas para eu escrever ao invés do meu dia a dia com as crianças.
    Mas aí recebo um comentário, uma idéia, alguem me faz pensar e acabo chegando a conclusão de que a pessoa que mais aproveita e aprende com esse blog sou eu mesma.
    Compartilhar é muito bom, independente de tudo e mesmo sabendo que algumas situações eu ainda não consigo escrever nem para mim mesma.
    Penso na exposição, principalmente depois que uma pessoa totalmente estranha disse que sabia tudo sobre a minha vida.
    Voltei a pensar sobre o que eu estava querendo quando decidi começar o blog e não era pra ser o que é...na verdade eu queria guardar minhas memorias para um dia meus filhos lerem, se isso fosse interessante para eles.
    O negocio mudou, não sei se foi bom ou ruim.
    A verdade é que escrever diariamente é mesmo um vício, por enquanto, feliz.
    Amanhã não sei como vai ser...
    Feliz 2011!
    Também fiz aniversário em janeiro, só falo de crianças, sei bordar, arroto discretamente, mas, torço para o Palmeiras!

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  2. Du, meu amor, você não pode nem pensar, em parar, de alimentar o blog. Filhosofias já faz parte da nossa família, tenho um orgulho danado quando sou parada na rua, na escola, na natação, na padaria, no video, enfim, em todo canto tem uma mãe interessada em conhecer ou com o elogio na ponta da língua pra fazer. É um meio incrível de comunicação, as pessoas ficam fascinadas pelas estórias, elas se identificam ou discordam, mas todos amam ler o que você escreve. Fique tranquilo que de férias, falta de tempo, vício, nóia, literatura boa e conselheiro de plantão as pessoas estão cheias o que elas querem é alguém assim como você, que filhosofa pra gente; isso sim é a delícia de te ver escrevendo nesse blog. Te amo. Com amor, Mi.

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  3. Sabe q parece: Não tem as tais Síndrome (ou Crises, sei lá) da meia idade, da adolescência, do casamento, da menopausa, etc., então: Síndrome do Blog... kkkkk

    Ainda bem que tudo passa e vc resolveu voltar, bjs "pros" 4

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