terça-feira, 10 de maio de 2011

Complexo de castração às avessas (nem Freud explica)

Sábado passado, eu e meu sogro conversávamos sobre a redução significativa do tamanho da família brasileira. Ele havia lido uma matéria no Estadão que repercutia os dados do novo Censo.

Hoje, li na Folha uma reportagem interessante sobre as "não-mães", mulheres que decidem não ter filhos. São variadas as razões pelas quais mais e mais mulheres tomam essa decisão, como registra a matéria abaixo.

Elas não querem filhos
Cada vez mais mulheres decidem não ter filhos. E não há Dia das Mães nem pressão familiar que as façam mudar de ideia.
Nos últimos 50 anos, a média de filhos por mulher no Brasil caiu de 6,1 para 1,9. Muitas só diminuíram o número de herdeiros, mas uma grande parte decidiu voluntariamente ficar para tia.
Segundo o demógrafo José Eustáquio Alves, pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, sempre houve uma porcentagem de mulheres sem filhos.
Eram as chamadas solteironas ou aquelas que tinham problemas para engravidar, em torno de 10% da população. "Hoje, estima-se que 14% não são mães."
Esse crescimento aconteceu na última década, motivado por razões que vão muito além da popularização da pílula anticoncepcional.
As antropólogas Paula Pinto e Silva e Maíra Bühler, da consultoria Pletora, pesquisaram esses motivos entre 120 mulheres de 25 a 35 anos.
De acordo com elas, a maternidade deixou de ser vista como uma obrigação. Passou a ser uma escolha.
"Tinha-se a ideia de que ser mãe era uma função biológica, um dever. Isso não deixava outra opção. Agora, as mulheres sabem que podem ter outros papeis sociais."
Elas querem estudar, trabalhar, viajar, casar, ser tia ou madrasta. E muitas pensam que um filho pode atrapalhar os planos.
A ilustradora Ila Roberta de Oliveira, 29, nunca quis engravidar, muito menos agora que está juntando dinheiro para comprar um apartamento. "Uma criança atrapalharia a minha rotina."
Ila está casada há dois anos e, apesar de ainda ser jovem, não acha que vai mudar de ideia.
"As pessoas sempre perguntam: quando vem o bebê? Ninguém quer saber como vai a carreira", conta, sem assustar-se com a pressão.
"Gosto de crianças, mas, com o mundo do jeito que está, é difícil pensar nisso. Acho que fiquei tão responsável que não quero ser mãe."

Quem tiver interesse em conhecer o restante da matéria e, consequentemente, outras histórias e relatos basta acessar http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1005201107.htm. Mas, para mim, esse trecho do texto já é suficiente para refletir sobre, digamos, essa recusa consciente da maternidade.

O mais curisoso é que a justificativa mais comum "filhos versus carreira profissional" foi inventada, não faz muito tempo, pelos homens modernos como forma de fugir da paternidade (e, por tabela, do casamento). Embora só os homens consigam continuar fugindo da paternidade recorrendo a essa desculpa "profissional" mesmo depois de ter filhos, acho estranho que cada vez mais mulheres renunciem a experiência da gravidez para ganhar mais dinheiro ou mesmo reconhecimento (que é melhor e mais digno do que o vil metal).

Como acredito que a felicidade decorrente do mais absoluto sucesso profissional não chega nem aos pés da felicidade que conquistamos pelo simples fato de Ser pai e mãe, fico sempre desconfiado dessas justificativas. No fundo, fico com a sensação de que essa tal recusa em ter filhos quando não revela a imaturidade do homem ou da mulher que a ostenta, tenta esconder um medo gigantesco de viver.

Ainda que pareça ofensivo, não consigo deixar de ter pena dessas mulheres. E talvez um pouco de inveja, porque sou desta geração de pais que, não sendo gay, daria o próprio pinto para levar no ventre o próprio filho.

Pena que essa, Freud não pode explicar.

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