quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A estrela cadente (ou: da onde eles vêm?)

Caminhávamos no escuro pela estradinha de terra que leva à sede da Fazenda São Rodrigo, na divisa de Minas com São Paulo. Eu e Emiliane. Quando, de repente, vimos juntos uma estrela cadente. Ficamos felizes e eufóricos porque há anos não víamos uma estrela assim tão cintilante. Riscando o céu com sua luz.
A Mi fez um desejo e eu fiz outro, ambos guardados no mais profundo silêncio.

Então fomos dormir, pois já devia ser quase meia-noite e na manhã do dia seguinte, uma quarta-feira de cinzas, voltaríamos de carro para Brasília, onde morávamos. Era o feriado de Carnaval de 2003.

Um mês depois, numa manhã bem cedo de segunda, o teste da farmácia acusava — para nosso espanto — a chegada inesperada do João (ou da Maria, na época).

Passado o choque — ainda contarei nas Intra-uterinas que por pouco não morro eletrocutado com a notícia da gravidez — me ocorreu de perguntar à Mi o que ela havia pedido para a estrelinha, como se eu não soubesse a resposta. Com um sorriso repleto e a mão sobre a barriga, ela me disse tudo.

Pois bem: e o João Pedro nasceu. De um parto natural de 12 horas, forte e desafiando a morte (de que forma? Conto no último capítulo das Intra-uterinas; tchan, tchan, tchan, tchan...).

Por isso, aprendeu desde pequenininho a homenagear a vida. Tomou gosto pelo sol, pela lua e pelas festas de aniversário (igual sua mãe, felizmente). Na celebração de seu aniversário de 4 anos, realizada no maternal da Escola Waldorf de Brasília — Moara, para os íntimos — resolvi contar para ele e seus amiguinhos como realmente tinha sido a sua vinda para a terra (porque a professora comemorava o nascimento das crianças contando uma hestória sobre o planeta de origem dos meninos e meninas; que eu sempre achei meio parecida com a estória do super-homem, ou melhor, de Kal-El, o nome dado por seus pais, que significaria Filho das Estrelas no idioma de Krypton). Resolvi incrementar o conto da professora dizendo que o João Pedro tinha descido do céu escorregando pelo fiozinho de prata que uma estrela cadente deixou.

Escorregou direto para dentro do umbigo de sua mãe. E lá ficou até que um dia eu consegui convencê-lo a sair para me ajudar a encontrar um tesouro enterrado por um velho marujo, chamado “Italiano”, que primeiro me ensinou a mergulhar de olho aberto no mar e depois me deu seu mapa.

Bom, mas eu só estou contando tudo isso porque no dia 4 de outubro, enquanto caminhava com um grande amigo meu aqui de Catanduva, vi outra estrela cadente. Mais de 7 anos se passaram entre aquela que trouxe o João Pedro e essa.

Voltei para casa todo animado e reuni a família para anunciar o ocorrido. Mal acabei de falar e a Mi foi logo me perguntando: “E o que você pediu?”, querendo que eu tivesse pedido para a estrelinha nos trazer uma bela casa, pois ainda não temos uma.

“Nada”, respondi. Não que eu não queira uma casa. É o que mais desejamos no momento. No entanto, acabei me convencendo pelas minhas próprias hestórias que a força das estrelas só pode ser utilizada para trazer crianças do céu. “Mas se nós já temos o João Pedro e o Antônio, o que mais poderia pedir”, tentei me justificar.

A Mi não se conformou. E eu fiquei com a sensação de que deveria ter pedido: afinal, vai que pelo rastro da estrela nos desce mesmo uma casa engraçada?

Contudo, qual não foi nossa alegria quando recebemos hoje pela manhã este cartão do Ricardo e da Márcia, dois grandes amigos de Brasília:

O texto e os desenhos anunciam a boa nova: eles estão esperando bebê!

Ficamos todos muito felizes. Emocionados.

Talvez eu tenha ficado um pouquinho mais, porque tive a honra e o privilégio de ver o momento exato em que o nenê do Ricardo e da Márcia desceu pelo rastro da estrela cadente e entrou definitivamente na vida deles.




Não vou nem desejar felicidade aos novos pais, porque ela pulsa e vibra aí dentro de vocês. Eternamente.

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