quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lista do que cada moleque realmente precisa...

Conto os anos de minha experiência como pai somando as idades do João Pedro e do Antônio: 7 de um com 3,5 do outro e lá vou eu para a segunda década de paternidade. Faço desse jeito porque cada filho é um universo, é uma pessoa com suas singularidades. Ou seja, não dá para ficar repetindo com o segundo (e com o terceiro, e com o quarto... pra quem tem coragem) apenas aquilo que deu certo com o primeiro. O desenvolvimento intelectual, físico e moral de uma criança exige plano próprio e específico. Não à toa as boas escolas de hoje vivem se desdobrando para tentar conciliar a execução de seus Projetos Político-Pedagógico com a formação peculiar de cada um; e, no entanto, sabem que não há chance alguma de acertar, por maior que seja o esforço, sem a participação dos pais e das próprias crianças. Resumindo bastante, cada criança precisa de um plano de educação individual para ser realizado em coletividade, isto é, que lhe permita desenvolver ao mesmo tempo sua autonomia privada (como pessoa) e sua autonomia pública (como cidadã).

Certa vez ouvi de um pedagogo português, Antonio Nóvoa, uma recomendação intrigante: desconfie desses professores que proclamam de boca cheia (e com um certo fastio) terem "mais de 30 anos de experiência", porque, na maioria das vezes, eles experimentam o desafio da educação de crianças apenas nos primeiros anos de magistério e nos demais vão repetindo o que "deu certo". O mesmo pode se aplicar aos pais com mais de um filho. Antigamente, numa família de oito filhos como a do meu pai, aceitava-se -- por razões de época -- que os mais velhos repassassem aos mais novos aquilo de bom que haviam aprendido. Quem brincou de telefone-sem-fio pode imaginar quais as consequencias disso tudo. Por outro lado, também não estou reforçando a tese de que cada filho deva ser criado como se fosse único, ou melhor, como filho único. Justamente porque as famílias no mundo e no Brasil estão diminuindo de tamanho (segundo o IBGE a média de filhos em 2001 era de 1,6) entendo que o convívio (as vezes desregrado) entre crianças diferentes vai se tornando cada vez mais necessário, necessariamente um projeto coletivo.

Enfim, não estou negando a existência de princípios, de condutas e mesmo de algumas coisas que possam ser atribuídas às crianças em geral. Claro que há. Aqueles best-sellers sobre filhos, do tipo "Como criar meninos" ou "Receita para fazer uma criança feliz" ou "Transforme seu filho num milionário de sucesso (já na gestação)", estão cheios de generalizações que costumam ajudar, desde que não os consideremos verdadeiros manuais de instrução para a educação do Enzo, da Aina, da Maria Fernanda, do Miguel, do Lucas...

Bom, por mais intensa que pareça ser a experiência com os meus dois meninos não me sinto em condições de enunciar generalizações educacionais ou quaisquer outras fórmulas que o valham. Acho que consegui, contudo, ao fim desses últimos 10 anos de paternidade, montar uma lista do que cada moleque precisa para chegar até os 7 anos de idade com saúde (ainda que com algumas fraturas, cicatrizes e pequenos traumas). A seguir os primeiros dez itens:

1. Ter mãe e pai (mesmo em casas separadas, que significam por extensão: amor, exemplos, limites, história, etc.);
2. Saber nadar;
3. Saber se limpar (principalmente, o próprio pipi);
4. Saber se defender (ou, simplesmente, não apanhar);
5. Ter uma boa lanterna (não vale as de brinquedo);
6. Ter um pedaço de corda (mais ou menos com dois metros);
7. Não ter medo de cavalo;
8. Ter um melhor amigo (muito melhor se for também primo);
9. Saber acender e apagar fósforos (no fundo, controlar o fogo);
10. Ter um belo canivete (sabendo que só poderá usar quando fizer 10 anos);

Um comentário:

  1. Du concordo plenamente com você, cada filho tem a sua individualidade e por mais que apostamos nas "receitas certas" cada um vai aprender da maneira que for melhor para ele e de acordo com o seu próprio ser..
    Estou vendo isso agora que tenho a oportunidade de criar um menino e uma menina, tudo é tão diferente.
    E eu acredito que conforme o tempo esta passando as diferenças vão ser cada vez maiores, vejo com muito bons olhos tudo isso porque a medida que vou me desenvolvendo como mãe percebo que vou dando a eles a oportunidade de se tornar diferentes.
    Hahaha...na medida do possível vou usar as suas dicas, por enquanto acredito que o Enzo já pode ganhar uma lanterna mas deve ficar longe do fósforo e da corda!
    Beijo

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