segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Trigêmeos


Estamos em férias. A primeira vez desde que acabou o doutorado. Eu, a Mi, os meninos, meus sogros, minhas cunhadas e meu concunhado. No fundo, bem no fundo, só estamos eu e os meninos, porque não seria justo (se não fosse assim) depois tê-los feito esperar tanto. A Mi não só entende como fica feliz em nos ver assim juntos, feito o mar, o céu e o vento.

Ela cuida da gente (passa protetor solar, nos dá de comer, coloca no banho...) como se fossemos três crianças, três irmãos: seus três filhos, seus trigêmeos. Eu também adoro me sentir irmão do João e do Antônio durante a maior parte do dia.

Cheguei um dia a sonhar com um pouco menos do que isso. Nossa! A vida surpreende mesmo.

Quando li no final da adolescência O apanhador no campo de centeio (de J. D. Salinger) sonhei que a paternidade pudesse ser algo como esta “função” imaginada e descrita por Holden (o protagonista do livro):

[...] ¾ Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto ¾ quer dizer, ninguém grande ¾ a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que queria fazer. Sei que é maluquice.

Acho que achei que ser pai seria como passar o dia todo brincando como criança com meus filhos à beira de um precipício. De alguma forma suspeitava do tamanho da responsabilidade que a paternidade implicava, ainda que extremamente prazerosa e absolutamente gratificante.

Mas hoje, enquanto escuto a respiração dos meninos dormindo se conjugar em harmonia com o barulhinho das ondas, vou descobrindo que ser pai é ainda maior.

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