quarta-feira, 2 de março de 2011

Até parece maldade de pai, mas não é

Posso garantir que não é maldade, porque o pai que praticou o "ato" sou eu.

Brincávamos (até agora há pouco) com um bando de Max Steel, que são os filhos do boneco Falcon dos anos 80. "Brincávamos" uma vírgula, na verdade só o João Pedro brincava e se divertia, pois todas as vezes que eu o Antônio colocávamos um boneco de pé lá vinha o João derrubá-lo sob o argumento de que "na guerra vale tudo".
Pedimos que ele parasse umas dez vezes. Sem sucesso. Aí quando o Antônio se levantou pra resolver no braço, reassumi meu posto de comandante supremo e ordenei: "Se você quiser continuar conosco aqui na sala não se atreva a derrubar nem mais um boneco, do contrário vou te colocar pra dormir já".
Ficou na dele uns dois minutos. E então começou a (a)tacar seu boneco preferido contra os objetos da sala.
Entrei em cena novamente como o-pai-do-pedaço e disse: "Pare de fazer barulho e se eu tiver de chamar sua atenção mais uma vez - seja qual for o motivo - você vai pra cama. Entendido?".

Assim pudemos montar uma bela estória com dois Maxs Steel salvando um outro Max Steel das garras de um urso gigantesco enquanto outros dois Max Steel tentavam domar a fera, com o auxílio de um lobo de estimação. Os bonecos ficaram bonitos todos de pé e empenhados no resgate. E o João só de butuca.

Depois de um tempinho o Antônio se desinteressou pelos Max e foi bruncar de playmobil. Levantei-me para tomar banho e o João me perguntou se podia acabar com a estória. Entenda-se jogar o seu Max Steel predileto sobre os demais. Pensei um pouco e disse: "Vou pensar, mas primeiro guarda os que estão jogados".

Mal liguei o chuveiro e veio ele me dizer que já tinha guardado e se [portanto] podia destruir a cena. Respondi que sim, porém só quando eu voltasse pra sala. Justamente porque eu sei que o João é impaciente (como quase toda criança de 7 anos) resolvi fazê-lo esperar um pouco, no fundo, fazê-lo sofrer um poquitinho.

Essa é a maldade. Ou melhor, isso é o que parece maldade. Mas não é. Pelo contrário, é uma estratégia pedagógica para evitar que ele sofra com a ansiedade (que é um dos males que mais aflige a humanidade hoje em dia). O princípio é o mesmo da vacinação ou da imunologia: você injeta na criança um anticorpo enfraquecido (um sofrimentozinho) para que ela desenvolva antígenos fortes e não sofra com a doença.

Além do mais, li naquele livro do Neil Postnam (O desaparecimento da infância, que vivo citando aqui no Filhosofias) que aprender a retardar o gozo é um exercício indispensável de maturação intelectual e emocional.

Por fim, depois de uns 25 minutos (uma eternidade para o João) apareci na sala para autorizar e contemplar a matança.

Um comentário:

  1. Dú tb sou adepta a estas "torturas", são muito válidas. Ansiedade é o dilema da idade deles mesmo.

    Bjs "pros" 4.

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