quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Intra-uterinas (memórias de fora pra dentro da barriga)

Como imaginávamos, tiramos de letra... na verdade, você tirou de letra a tal da translucência nucal. Imensa emoção.

Como eu lhe disse, estávamos tensos e sua mãe muito ansiosa. Cheguei um minuto depois do horário marcado: exatamente 15:21 h. Sua mãe já havia deixado uma outra gestante ser atendida na sua frente para que pudéssemos entrar juntos na sala.

A razão de toda essa tensão você já sabe: hoje iríamos fazer exames para identificar (ou não) má formação.

Acontece que depois de ter conversado contigo, na madrugada, acho que fiquei mais tranqüilo. Tive dificuldades em pegar no sono, mas pude acordar sereno e sem receios. Assim cheguei ao consultório: confiante.

Na ante-sala, enquanto sua mãe aguardava o momento em que seria chamada com as mãos geladas e o coração arrochado, eu ia ficando cada vez menos apreensivo.

Até que, finalmente, pudemos lhe ver na tela da televisão na qual a ecografia é transmitida. Estava tudo ali: duas pernas, dois pés, dois braços, duas mãozinhas, uma cabeça muito grande, um tórax pequenininho, corpinho proporcional para idade, enfim, tudo dentro dos padrões de normalidade.

Ufa! Um alívio.

Opa! Mas... ainda faltava o mais importante a “Translucência Nucal”, o famigerado exame que se destina a avaliar probabilidades de desenvolvimento de anomalias genética. Foi o que o médico explicou (se sua mãe e eu tivéssemos sido fotografados você poderia ver o retrato da apreensão).

Foram alguns minutos de muito expectativa porque você não ficava numa posição adequada à avaliação médica. Partimos para a ultrassonografia. O médico começou a pressionar a barriga de sua mãe e, é claro, você começou a se mexer. Isto você sabe; você deve estar querendo explicações para tanto incomodo.

“Pronto”, disse o médico. Então ele capturou uma imagem de suas costas e fez a medição do seu pescoço, ou melhor, do líquido que fica na nuca. Deu 1,2 mm. Ou seja, normal. Respondendo a uma pergunta minha, o médico nos advertiu que acima de 2,5 mm há uma probabilidade maior do bebê nascer com deficiências; isto não significa que nascerá. O inverso também é verdadeiro: nem todos os riscos estão afastados em seu caso, embora a probabilidade seja muito menor.

Mas nós comemoramos porque coração de pai e mãe não se contém com probabilidades. Saímos do consultório renovados. Eu até liguei do meu celular para sua madrinha, minha irmã, em Catanduva para dar a notícia no horário de maior tarifa. Para quem conhece seu pai sabe que atos ou arroubos como estes só se explicam em situações extremas. Hoje vivemos uma situação de extrema felicidade.

Mais uma etapa superada. Agora faltam apenas duas ou três ecografias. Na próxima acho que poderemos conhecer seu sexo.

Ah! Não posso deixar de lhe contar que ainda há pouco falava mais uma vez ao telefone com sua madrinha, e ela me disse que os 169 batimentos cardíacos por minuto registrados indicam, na experiência do Dr. Waldemar — o médico que fez o parto de seu pai, e também da Paola — a formação de uma menina. Falei da Paola porque quando ela ainda era um bebê na barriga de minha irmã foi feito um exame semelhante para verificar os batimentos do coração e adivinha quanto deu: os mesmos 169 bpm. Fora a coincidência dos números, o mais curioso é que minha irmã me disse que tinha certeza de que teria menino, tal como temos nós.

Ainda acho que você será João, mas confesso que muito me agrada a suspeita de que possa ser a Maria que sempre desejei.

Para seu avô materno, o vô Vartão, disse que os bpms elevados revela tão somente que você será um corintiano apaixonado. Não que seu pai seja torcedor inveterado, mas, como um bom genro, não quis perder a chance de provocar o sogro sãopaulino fanático.

Assim foi nosso encontro de hoje. Aliás será que um dia saberemos se você pôde nos ouvir, poderia nos reconhecer? Se a visão ainda não for boa e você tiver de usar o olfato e o paladar, é preciso que eu lhe diga que sua mãe toma menos banho do que eu e, portanto, deve ter um cheiro mais forte. Estou brincando. Não liga não que isso é inveja de pai, pois eu sei que o cheiro de sua mãe será um dos primeiro registros e talvez o mais marcante que você fará em vida. É o odor do amor maior, gravará sua alma, dele exalará sua vida.

Escrito em 30 de maio de 2003 — 23:13h

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