terça-feira, 28 de setembro de 2010

Comentando comentário - ai que saudades do inferno

Angélica, você tem toda razão. Concordo que é preciso oferecer (com delicadeza) às crianças uma educação ambiental capaz de torná-las conscientes de suas responsabilidades na preservação do (delicado) equilíbrio ecológico. Sou favorável até que a criança receba estímulos -- informações específicas -- para desenvolver, em algum grau, essa consciência.

Minha oposição (radical, foi apenas um arroubo) se restringe à publicidade, não à consciência ecológica pretensamente infundida por ela. Isto é, perco a paciência quando vejo propagandas que, a pretexto de incutir consciência em nossos filhos, projetam imagens ameaçadoras de um mundo devastado, sem água e sem floresta, para depois obrigá-los a um determinado comportamento. Ainda que invariavelmente concorde com o comportamente difundido: como ser contrário ao uso racional da água, à reciclagem, à compostagem, às restrições no uso de aerosóis?, entre outros exemplos de conduta responsável e consciente.

Digo que é terrorismo barato fazer com que uma criança economize água mostrando fotos de bois mortos às margens de um riacho seco no Sertão. Ou que não use papel branco exibindo um desenho animado com árvores chorando e morrendo pelos dentes de uma moto-serra malvadona. Não acho honesta nem eficaz a "educação" pelo choque e pelo medo. Esse é ponto. Para os adultos pode até ser que funcione mostrar fotos de fumantes amputados ou de carros destruídos por motoristas embriagados. Mas para as crianças é mais provável que esse tipo de publicidade só as ensine sofrer.

Acho que gosto mais daquela estratégia medieval de dizer à criança que ela vai para o inferno se fizer isso ou aquilo. Porque é só crescer um pouquinho para descobrir que se não tem Deus, logo não pode ter Diabo. Bem mais simples, bem mais fácil.

Conheço uma menininha que parou de dar descarga porque não queria acabar com a água de sua casa nem matar os peixes do mar com seu cocô. Fico pensando o que pode acontecer quando o Al Gore (Uma verdade inconveniente) contar para ela que o CO2 expelido com a respiração contribui para o aquecimento global.

Acredito que o único caminho é esse que você sabiamente tem seguido com Cecília; apesar dessa tal publicidade. Seus filhos vão aprender brincando de lavar prato, de amassar barro, de infantilizar formiga. Vão aprender a amar nossa terra por causa do exemplo poderoso de seus pais.

Um comentário:

  1. Aff, que susto, valeu Miroca por deixá-lo menos radical (ou racional??) e mais sutil nas palavras.
    Pelo post anterior pude perceber sua apatia pelas propagandas apelativas e te apoio totalmente, mas dizer que não temo o futuro ecológico, é impossível para mim. Sei que não é tudo que podemos aplicar com as crianças e nem conseguimos, elas aceitam o que está ao alcance do entendimento, o que não conseguem digerir torna-se muito maior, de onde surge o sofrimento.

    Veja um exemplo real do sofrimento infantil causado pelas propagandas apelativas: o Marcelo é fumante. A Cecília descobriu que atrás dos maços existem aquelas fotos repugnantes, asquerosas. Bastou pra ela querer ver todas e sofrer achando que isso, aquilo, vai acontecer com o pai dela. Eu e o pai sofremos junto com ela. A imaginação voa longe e é difícil trazermos para a realidade novamente.
    As fotos são muito mais convincentes do as várias tentativas do pai de se libertar do vício.

    Bjs "pros" quatro.

    ResponderExcluir