terça-feira, 28 de setembro de 2010

O dia em que eu e os meninos fomos salvos pela consciência ecológica

Quando era criança “aprendi” com meu pai a fazer xixi no banho.


Tomei gosto pela prática e naturalizei-a, como um hábito sem maiores conseqüências. Até que um dia fui dormir na casa de meu primo. E minha tia, que sempre desempenhou um papel civilizatório em minha família, asseverou ao me ver fazendo xixi: “quem faz xixi no box, toma banho na privada”. Diante da força daquela sentença, entendi que era um vício, um péssimo hábito, e que, portanto, deveria praticá-lo às escondidas, porque a verdade é que criança nenhuma deixa de fazer o que é gostoso porque os adultos dizem que “não pode” ou “porque é feio”. Apenas continuam a fazer — tirar meleca do nariz, arrotar alto e ver novela na televisão, por exemplo — sorrateiramente.

Assim o foi nos últimos trinta e tantos anos, até que um dia fui buscar meus filhos na natação e, misturados às mães no vestiário dos meninos, coloquei os dois no banho para tirar o cloro e ambos começaram a fazer xixi no ralo do box. As outras crianças no mesmo instante disseram: — Olha Mãe, o que eles estão fazendo!

Desconcertado, tive de sussurrar aos meninos que só podia fazer xixi no banheiro de casa. Mas saí de lá com aquele peso do pai que transmite uma doença hereditária aos seus filhos. Passou um tempo e minha esposa trouxe para casa um exemplar daquela revista Sorria e qual não foi minha surpresa e satisfação quando verifiquei que havia uma recomendação expressa das entidades de proteção ao meio ambiente e um discurso muito bem articulado (com dados estatísticos e tudo mais) preconizando o velho xixi no box como uma forma eficaz de economizar água. Na hora já me senti novamente em paz com os homens de boa-vontade. Chamei minha mulher e contei que meu antigo hábito, já não era mais vício, tinha se transformado num ato de consciência ecológica, sem que se alterasse absolutamente nada no fato em si.

Agora, sempre quando vou buscar os meninos na natação, levo a revista debaixo do braço e fico doido pra dizer a quem nos acuse de porcalhões que nosso xixi é uma manifestação deliberada e consciente de respeito à natureza apoiada inclusive por Organismos Internacionais.

Para Angélica, Marcelo, Cecília e Murilo, com carinho

Um comentário:

  1. Eeee, Du, vai por ai vcs tão indo bem.
    Depois te conto o quase comentário que fiz a respeito disso - xixi no banho, muita coincidência - no post anterior. A Mi já sabe, bjs "pros" quatro.

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